A narrativa alterna o relato de viagem com a novela sentimental da “menina dos rouxinóis”. O narrador e seus companheiros de jornada partem de Lisboa com destino à cidade histórica de Santarém. A passagem por outros locais importantes é permeada pelo desenvolvimento de reflexões a respeito dos mais variados temas, sempre pertinentes à sociedade lusa.
O eixo condutor dessas reflexões é a oposição entre o espiritualismo e o materialismo. O primeiro teria sido representado pelo prestígio social da religião durante o absolutismo, enquanto o segundo caracterizaria o governo dos liberais. O narrador não pende explicitamente para nenhuma das duas correntes, considerando-as igualmente nefastas para o povo português, vítima de frades e de barões, que são os exploradores que teriam tomado conta do governo liberal interessados unicamente na obtenção de lucro. Um dos reflexos dessa situação na cultura seria o abandono de monumentos históricos, verificado em toda a viagem.
Inserida no relato de viagem, há a história de Joaninha, a “menina dos rouxinóis”, cuja ação transcorre no Vale de Santarém. Os primos Carlos e Joaninha se reencontram depois de alguns anos de separação e confessam seu amor mútuo. No entanto, Carlos se recusa a rever D. Francisca, a velha cega mantinha laços de amizade com Frei Dinis, por quem Carlos nutria antipatia desde que o religioso tentara convencê-lo a mudar de partido, argumentando que o liberalismo era anticristão. Por suas convicções políticas, Carlos acabou exilado na Inglaterra.
De volta à pátria durante a guerra civil que opôs liberais e monarquistas, Carlos colabora para a vitória de seu partido. No entanto, ferido em combate, fica sob os cuidados de Frei Dinis e de Georgina, moça inglesa com quem ele manteve um relacionamento durante seu exílio.
Aos poucos, as revelações em torno do passado de Carlos veem à tona. Francisca revela que Carlos é filho de Dinis, que tinha mantido um relacionamento adúltero com a mãe do rapaz. Ao saber da verdade, Carlos parte, abandonando a prima, para não submetê-la ao mesmo sofrimento experimentado por outras mulheres que tinham se apaixonado por ele. Joaninha termina só, enlouquece e morre.
Carlos se torna barão, espécie de explorador, e enriquece. Sua trajetória simboliza a derrota moral do liberalismo.
Sobre o autor
Almeida Garrett foi um ativo participante das forças liberais que combateram o absolutismo em Portugal durante a primeira metade do século XIX. Depois de algumas experiências no exílio, o escritor assistiu à vitória do liberalismo em 1834. Com isso, passou para o exercício administrativo, participando do poder político. De certa forma, o livro é fruto dessa dupla vivência do escritor.
Importância do livro
A viagem de Lisboa a Santarém serve de inspiração para o desenvolvimento de uma série de reflexões a respeito de questões portuguesas que tinham grande importância naquele momento (meados do século XIX). A inserção de uma novela passional no interior do relato possui um propósito didático que não era estranho ao romantismo: a ideia era transmitir uma mensagem de caráter político utilizando-se de um tipo de narrativa de grande apelo popular.
Viagens na Minha Terra foi publicado em folhetins antes de virar livro em 1846. A Revista Universal Lisbonense disponibilizou os textos entre 1845 e 1846.
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Postado por Daniela Nieiro
Apesar da linguagem complexa. O livro segue uma linearidade perfeita, com personagens entrosados.
ResponderExcluirViagens na minha terra segue como um dos livros mais lidos em Portugal.
;) Obrigada pela publicação :)